quinta-feira, 29 de outubro de 2009

TRIBUTO EMERGENCIAL A MICHAEL JACKSON

Existe o mundo. E os mundos paralelos. Aliás, as vidas (todas) são mundos paralelos. Ou, senão isso, são microcosmos que gravitam em torno do macro-mundo, que funciona como palco (ou epicentro) de todos os dramas (que representamos) ou dos papéis (que assumimos). "Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria solução". Sempre achei genial essa poesia de Drummond. Todavia, há outro "mundo, mundo, vasto mundo" que não seria, só, uma rima. Ou: sequer seria rima! "Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Michael Jackson" não precisaria rimar, pois que bastaria ser - e ele foi. Não, não importa o que digam. Se isso, se aquilo. E daí? Ele foi. Não foi solução, não foi rima, não foi parâmetro, nem teve (?) um começo definido, um fim presumido, uma história coerente. Mas foi! E porquanto "ser" seja verbo de ligação, Michael Jackson transcendeu a definição e foi além (foi verbo de ligação, sim, uma vez que estabeleceu a ponte entre várias construções desconstruídas). Mas (paralelamente e desafiando a lógica) foi principalmente intransitivo, ou seja, um verbo de significação completa. "Ele, Michael Jackson, um verbo de significação completa???"... Ah!... os mundos paralelos, gravitando em torno do epicentro! Claro: há mundos mágicos e belos e puros e bons. São os mundos largos, amplos, anchos. Mas há espaço (no espaço) também para os "mundinhos, pequenininhos, acanhadinhos e dentro dos quais (obviamente) não cabe o "Mundo Jackson". Um mundo assim, transformista, que se colore e se constrói, descontruíndo. Um mundo que (em trinta segundos) invadiu todos os canais do mundo (do "mundo, mundo, vasto mundo) e demonstrou que (mesmo parado) um "mundo paralelo", em sendo belo, não se submete à expectativa (medida e contida) dos "pequenos-mundos-burgos" e nem a "indesejada das gentes" (destino comum de todos os mundos) nem ela consegue calar a voz que não se cala. E ei-lo, ressuscitado, ele, o "mundo-afro-branco-americano". Será? Ou seria "o mundo-branco-afro-americano"? Melhor ainda: "o mundo-todas-as-cores-sem-pátria" que Michael Jackson desinventou,cantando e dançando, durante 50 anos-luz. "Luz???".... Outra vez, a "voz-dos-mundos-submundos-mundinhos-inhos-tão-pequenininhos" que dentro deles não pode entrar nenhuma "estrela-surpresa" porque não estão programados para nada que fuja às medidas pré-estabelecidas, embora vencidas e eternamente parecidas. E a isso eu chamo "prosa e verso sem ponto sem rima sem métrica sem parágrafo porque não tive tempo de respirar e a pontuação é muito mais respiração e inspiração que propriamente gramática prática(?) da língua portuguesa. Com certeza! Em tempo: não é essa a orientação que sigo quando estou ensinando, posto que "ensinar" é diferente de "viver". Ensino, pontuando. E vivo ao som da pulsação. Da minha pulsação! E ainda com álibi: criar é transgredir. Se não transgrido, não crio.

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